"Nas histórias, os velhos
contos de fadas, um herói vem. Mas todos os meus heróis se foram ou estão
mortos. Ninguém está vindo me salvar. "
Não, não é o livro da Philippa Gregory
Distópico e fantástico, Rainha
Vermelha tem seu lugar na lista de YA do ano de 2015. Duvidando e se envolvendo
cada vez mais com os personagens. Segurem-se em seus assentos, pois este livro
vai te levar por uma viagem que passa pela terra dos X-Mens, Avatar, pelas
ideias – não narrativas, ufa! - de George R. R. Martin, pelo temperamento da Katniss
Everdeen de Jogos Vorazes, a separação de classes em Divergente e, abusando um
pouco do seu conhecimento literário, por 1984 de George Orwell.
“Eu
te disse para esconder seu coração. Você deveria ter me ouvido.”
A Elite Prateada menospreza os cidadãos de classe baixa – chamados de
Vermelhos – os obrigando a viver na pobreza e os obriga a servir como soldados,
independente do sexo, assim que completam 18 anos de idade. Nossa personagem,
Mare Barrow (é aqui que entra a personalidade da Katniss) é uma garota que vive
do que rouba de outros pobres, mesmo tendo sua atitude como absurda e
ignorantemente reprovada por sua família. Ela será obrigada a ir para a guerra
em poucos meses, seguindo assim o mesmo destino de seus outros três irmãos mais
velhos.
Voltando aos Prateados, a elite
nobre e com poderes mágicos. Isso mesmo, essa é a parte onde os X-Mens e Avatar
(não aquele filme com bichos azuis, a animação canadense mesmo) entram em cena – dobradores de água e metal, manipuladores de
natureza, super-força, telepatia e entre tantos outros, os mais perigosos são
chamados de Murmuradores: eles entram na sua mente e o que é dito por eles,
você é obrigado a obedecer de imediato. Com todos esses poderes, é claro que
fica fácil manter sob controle qualquer um que pensar em uma rebelião.
Para mostrar o quão poderosos são
os Prateados, torneios são realizados em arenas nas vilas vermelhas – assim
eles podem exibir seus poderes apenas para apagar quaisquer ideias revolucionárias.
Toda primeira sexta-feira do mês, a classe baixa é obrigada a testemunhar a espantosa/terrificante/assombrosa/traumatizante
luta entre dois Prateados.
Isso é o que separa os Vermelhos,
e torna os Prateados superiores: superpoderes.
Agora que sabemos um pouco de cada povo, podemos entrar na cena Game of Thrones: os Prateados têm famílias, ou dinastias como você preferir. Cada família faz parte de uma Casa, umas mais e outras menos influentes, cada uma com seu poder e sua cor, assim podem ser diferenciados só de olhar para suas roupas.
A parte emocionante do
livro começa com a grande festa para o filho do Rei, o herdeiro de todos os
povos. A ‘festa’ na verdade é uma grande competição entre as jovens -
gananciosas egoístas e ambiciosas
- de cada uma das Casas, onde as garotas tem que demonstrar seus poderes em
diversas provas para eleger a mais forte entre todas – a garota que realmente
merece a mão do herdeiro do trono, tornando-se assim a futura rainha.
O que é realmente me agrada aqui é
que distopia sempre é tomada como sinônimo de moderno, futurista, imaginário...
Mas a história gira em torno de aldeias, mercados, casas, espadas, e reis e
tronos, e misturando isso com câmeras, eletricidade, armas, motos, jatos,
metrôs (chamados de sub-trens). O que dá a entender é que, como em Divergente:
havia um mundo – o nosso mundo – antes de toda essa civilização.
Papo vem, papo vai; depois de
algumas desgraças nossa protagonista é forçada a trabalhar no palácio
juntamente com outros servos Vermelhos, e durante esse grande evento para
escolher a próxima rainha... BOOM! Rola um acidente e todo mundo descobre que: a
mais nova criada tem superpoderes assim como os prateados.
O ponto importante é que:
diferente de Katniss e de Tris: dá pra gostar da Mare logo de começo. Ela erra,
mas não banca a fracote. Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades, e
inimigos também; e Mare Barrow não hesita e mete um jab na primeira oportunidade de combate com sua principal inimiga.
Isso é o que me fez gostar de Mare e consequentemente do fato da autora não
poupar o lado ruim dos personagens e a crueldade de ambos os lados – assim como
a adaptação cinematográfica de Jogos Vorazes.
Ah sim, Mare é capaz de controlar
a eletricidade; não só controlar, mas sim criar
eletricidade. Isso significa que ela não precisa absorver seus poderes de algum
lugar, assim como os manipuladores de fogo que precisam criar a faísca, isso
faz Mare ser uma sangue-vermelho mais forte que qualquer prateado [ALERTA DE
SPOILER: Existem mais pessoas de sangue vermelho com poderes, e o governo as
caça e mata antes que mais Vermelhos tomem conhecimento disso – vocês já viram
isso em algum lugar? Eles só não assassinam Mare pois ela demonstrou seus
poderes durante o evento mais importante da vida de um príncipe, enfim, foi um
acidente nem deu pra disfarçar].
Quase me esqueci:
- Tem romance sim, triângulo amoroso até, mas na medida certa pra quem quer ação, porém deixa a desejar pra quem acabou de ler A Seleção;
- Tem traição, aliás, é uma das frases mais usadas durante o livro: Todo mundo pode trair todo mundo.
- Tem revolta e revolução também, com uma
personagem um pouco clichê, Diana Farley, mas muito badass liderando a guerra toda e criadora de uma frase de efeito do caramba: “
Vamos levantar vermelhos como a Aurora”;
‘’NADA É ORIGINAL. O escritor Johnathan Lethem disse que, quando as pessoas chamam algo de original, nove entre dez vezes elas não conhecem as referencias ou fontes originais envolvidas; ‘’ pag.15
Quando você referencia diversas obras – também não originais – sua obra fica tão complexa, completa e bem contextuada que pode ser chamada de original. O que quero dizer é que, a sra Aveyard fez a lição de casa e uniu mundos para criar o seu próprio, tipo o final de Sword Art Online – desculpa o spoiler.
“Many things led to this day, for all of us. A forgotten son, a vengeful mother, a brother with a long shadow, a strange mutation. Together, they’ve written a tragedy.”
'Muitas coisas levaram à este dia, para todos nós. Um filho esquecido, uma mãe vingativa, um irmão com uma longa sombra, uma mutação estranha. Juntos, essas coisas escreveram uma tragédia."
O que me resta é aguardar a continuação - Espada de Vidro - pra poder finalmente me unir à Guarda Escarlate (fala sério, essa Farley é ótima com frases de efeito) e conhecer os novos mutantes e saber quem fica com quem, porque uma novelinha nunca é demais.
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